
ASPECTOS DA PROFISSÃO VETERINÁRIA E MOTIVOS PARA DESILUSÕES
Prof. Adil Knackfuss Vaz
Vice-presidente da SOMEVESC
CRMV-SC nº 1079
A preocupação com o excessivo número de cursos de medicina veterinária e consequentemente com o elevado número de profissionais sendo lançados no mercado de trabalho tem motivado uma grande preocupação com a nossa profissão. No início de agosto, o Conselho Federal de Medicina Veterinária realizou em Brasília o Primeiro Fórum das Comissões Nacional e Regionais de Educação da Medicina e do 25º Seminário Nacional de Educação da Medicina. A SOMEVESC, através do prof. Peter Bürger, e o CRMV-SC estavam representados. Na ocasião verificou-se que existiam naquele momento 556 cursos de veterinária autorizados, sendo 531 presenciais e 25 a distância. Neste último caso a primeira turma será formada em breve. São autorizadas anualmente 137.867 vagas, das quais 79.637 para os cursos presenciais e 58.230 para os cursos a distância. Em Santa Catarina, existem 9.775 profissionais registrados junto ao Conselho Regional de Medicina Veterinária e 31 cursos presenciais autorizadas.
Um importante trabalho com dados sobre a profissão foi realizado pelo CRMV-PR, através do colega Felipe Wouk, podendo ser acessado em https://www.crmv-pr.org.br/artigosView/103_A-demografia-medico-veterinaria-necessita-ser-controlada.html. Este é um trabalho abrangente, e recomendamos a consulta aos seus resultados !
A Comissão de Ensino do CRMV- MT também fez um trabalho de levantamento da situação dos médicos veterinários daquele Estado, através da aplicação de um minucioso questionário. Muitas questões postas tem relevância para SC e para o país também, pelo que irei discutir alguns pontos deste trabalho.
O percentual de mulheres exercendo a profissão é 64% contra 36% de profissionais do sexo masculino. Observou-se também que entre os que abandonaram a profissão nos último dois anos (2019 e 2020, abrangência do estudo) 75% eram mulheres. Somente a maior participação destas na profissão não parece suficiente para explicar este percentual. É possível que outros fatores, como responsabilidades familiares, tenham influenciado neste número, evidenciando a necessidade de maior apoio às médicas veterinárias para que continuem no exercício profissional.
É surpreendente que 70% dos respondentes ao questionário tenham cursado ou estejam cursando pós-graduação, a maioria em nível de especialização. As demandas do mercado de trabalho podem explicar isso, forçando a especialização em áreas do conhecimento para poder competir. É também possível que a falta de oportunidades na profissão leve os recém graduados a iniciar um curso de pós-graduação antes de ingressar no mercado de trabalho.
Sessenta por cento dos consultados declaram participar de eventos, e 10% não participam. Não supreendentemente, a falta de tempo e de condições financeiras são o maior obstáculo a essa participação. A falta de oferecimento de eventos próximos à sua localização também é citada como obstáculo.
Nota-se que o setor público e a área de clínica e cirurgia de pequenos animais propiciam uma melhor remuneração. Há que se notar, porém, que 70% dos médicos veterinários consideram que a remuneração obtida é baixa, sendo um dos maiores fatores de abandono profissional. Cerca de 55% têm rendimentos menores que R$5.000,00 mensais, muitos relatando exercer outra atividade para suplementar a medicina veterinária. Juntamente a este, e como um fator relacionado, a falta de reconhecimento por parte da sociedade do papel e da importância do médico veterinário são também citados por um bom número.
Talvez os fatores citados sejam relevantes para o fato de que 21% dos que responderam ao questionário não exercem a profissão. Pode-se supor que este número seja até maior, pois logicamente aqueles que não estão exercendo não tem estímulo para responder. Ou seja, quase uma quarta parte dos que se formaram, com esforço pessoal, sacrifícios e uso de recursos públicos não estão utilizando este investimento.
Não é surpresa que uma das maiores preocupações entre os profissionais é o número de cursos de medicina veterinária existentes no país, sendo que 93% opinam que este número é grande demais, pois resulta num excesso de mão de obra que possivelmente descamba em concorrência desleal, levando ao aviltamento de salários e valor de serviços. Outra importante preocupação é em relação o ensino: 55% consideram que a formação proporcionada pelos cursos não atende ao mercado de trabalho.
Os pontos citados foram pinçados dentre outro, em um trabalho bastante aprofundado por parte do CRMV-MT. Como dito inicialmente, muitos aspectos aqui mencionados podem provavelmente se aplicar a Santa Catarina. No entanto, fica a sugestão que o nosso Conselho siga o caminho apontao por Mato Grosso, que realize aqui também um leantamnto desse tipo, e coperação com a SOMEVESC e ocursos de medicina veterinária do Estado.
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